terça-feira, 30 de maio de 2017

Depois de mim.

te vejo roer as unhas
duvidar
dizer alto não sou poeta
não sou nada além
não sou artista também
não sou nada além
de mim

te vejo assim
pelos cantos
desviando os olhares
desviando dos olhares
te vejo aos prantos
tentar e não conseguir
de novo

só te vejo sorrir quando só
no fim do dia
te vejo falar consigo
te vejo falar não consigo
e apesar de querer
não te sigo

quando a insegurança chega
você some de vista
escreve na cara
não sou artista
não sou poeta
nunca faço a coisa certa

amanhece
te sigo
mas nunca consigo
de dia
dizer que nos seus olhos
eu só vejo
poesia
poesia
poesia
poesia
ao invés disso
esquece

domingo, 28 de maio de 2017

Rasga-mortalha.

a ave pousa
no teto
crava as unhas

me pegou de ouvidos abertos

morra morra morra morra morra morra morra morra morra morra morra morra morra morra

há muito menos de nós quando nascemos
do que quando morremos
aplaudimos o feto
pelo direito garantido
de lutar pra não morrer
mesmo sabendo que um dia em breve
morrerá

terça-feira, 9 de maio de 2017

Drone.

não sei se você também percebe
mas sempre tem mais
de duas pessoas na sala
quando a gente eu e você
conversamos sozinhos

também não sei se é de propósito
mas do jeito que você me olha eu sinto que
eu sinto que o seu olhar poderia
me atravessar e cruzar a cidade
cortar o mar o oceano
os continentes do outro lado do mundo
contornar toda a superfície terrestre
pra dar a volta e me encontrar ainda ali
sentado no sofá
olhando de volta
apavorado de já estar
completamente preenchido
por você