segunda-feira, 9 de julho de 2018

Custa.

uma tristeza sem fim
curada aos poucos
a depressão remediada
por grandes viagens a São Paulo
em busca de carinho
comprar roupas novas para se ver de outra forma
descontar tudo na psicóloga particular
gastar parte de tudo o que tem pra se sentir melhor

e eu?
o que faço pra me distrair da tristeza
se o tempo todo preciso pensar
no que vou comer
como vou chegar
o que vou fazer pra
não esmorecer
ir de posto em posto
unidade de pronto atendimento
pra descobrir que não tenho saúde
ou dinheiro
pra cuidar de mim
passar os dias sem ânimo algum
para assistir ao espetáculo
do meu corpo enquanto ele falha

o que é sentir-se só
e pedir um Uber no meio da madrugada
e ir a qualquer lugar habitado
eu não sei o quão doloroso é
ter a oportunidade de simplesmente
esquecer

exceto o dos bolsos
parece que carrego peso demais comigo
você me diz pra não levar tão a sério
pra estar junto das minhas
mas tenho muito poucas moedas
pra remunerar o afeto
dado de bom grado

não tenho depressão
tenho pressa

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Menina.

enquanto reforçam forçam
os paus em você
o seu pau em você
mistificam os pelos do seu corpo
e pelo seu corpo desenvolvem apego nojo
deleitam-se em manter-te como a imagem refletida
em superfícies pouco nítidas
essa pica não sou eu

mutilam-te pela mente
desmentem
sua identidade
resumem tudo ao vestido ao cropped
à fala de tom ferino
fe mi ni no
querem que ande desarmada de você
desalmada
uma carcaça desabitada
orando terços inteiros pra continuar
masculinizada

cunetes curras dentro de banheiros
estar sempre aberta pra paus forasteiros
resvalarem seus medos
sempre em segredo
sair sangrenta de corpo e sentimento
esporrada enterrada em cimento
sete palmos mais distante de reconhecer-se

matam o meu corpo mas eu não sou uma só
matam o meu corpo e eu não sou uma só
podem matar o meu corpo mas no terceiro dia
morre outra 
se renova a profecia