sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Parapeitos.

Parou ali, junto à sombra da cidade. Implorara aos céus por tanto tempo que fosse salvo daquela torrente de cabeças iguais toda composta de rostos iguais e que seguia incansavelmente no mesmo sentido para, no fim, alcançar o mesmo nada. Estava ali para salvar-se.

Parou ali, à sombra da cidade. E a sua própria sombra misturava-se aos traseuntes que, numa corrida contra o tempo, mantinham-se de cabeça erguida e olhos sempre à frente.

Parou ali, projetando a sua sombra sobre a cidade. Sobre uma faixa de pedestres que, ao contrário do senso comum, por si só, nunca salvou vida alguma. Ao contrário dos parapeitos, ah!, estes sim salvam vidas!

Parou ali, delineando a sua silhueta no horizonte da cidade. Os rápidos passos arrastavam-se numa cachoeira que desembocava horizontalmente para leste, para norte, para todos os lados. E, como uma cachoeira, não havia razão para desembocar; mas desembocava com todas as forças que possuía, apesar do caminho estreito.

Parou ali, acima das cabeças da cidade. Porque eram como gado, como cães adestrados, correndo atrás do senso comum: Pastando, correndo e fingindo de mortos; Matando, morrendo e fingindo de mortos.

Parou ali, à sombra da cidade. Sobre o parapeito. Sob o céu cinza. Então, sob o parapeito. Sobre a calçada. Escorrendo no asfalto, pelas vísceras da cidade.

E, de repente, era ele a maior prova de que parapeitos salvam vidas.