domingo, 23 de janeiro de 2022

domingo, 16 de janeiro de 2022

Voltejando parado.

 estou apórica 

 poucos olhos para perceber que estou à beira 

 abismos cheios d'água 

 fomes vagam, confundem-se 

 com desejos injetados em mim 

 abocanho meu próprio caminho 

 não me alimento de qualquer coisa 

 se nos portões encontro grades 

 descubro que já tinha as chaves faz tempo 

 

 amiga é aquela que avisa quando 

 você já passou muito tempo dando cabeçadas 

 e também a que não permite que a outra 

 inicie também a cabecear 

 para não deixá-la só.






terça-feira, 11 de janeiro de 2022

 paciência às vezes 

 é um excesso de cuidado

 um não-me-toque

 algo a se segurar ali no inaudito

 as dúvidas são vermelhas

 daquele frio tão frio

 que queima 

 e ali mesmo enquanto queima,

 como um adesivo,

 já adere à pele.

 imagine deitar dentro de uma cápsula deste gelo

 você curvada,

 os joelhos como apoio para o queixo

 e as canelas como os escudos pontudos do peito

 e - ainda assim - completamente desprotegida.

 imagine a sensação deste abraço.

 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Solidões acompanhadas.

 vou driblando barrancos

 dando voltas em imensidões

 contornando buracos pé ante pé 

 contando distâncias no infinito

 tudo em vão 

 e à beira do vão 

 nada tem um tamanho tão grande.

 repita:

 nada tem um tamanho tão grande 

 vazios são infinitos porque

 habitam o ar

 deslizam por baixo das coisas

 o lugar mais cheio que houver

 estará repleto também

 do nada.

 
pra abocanhar o mundo é preciso saber

atrasar o onde 

esquecer como

desfazer o que ainda não foi feito.