domingo, 18 de setembro de 2011

Carta ao Amor.

Caro amigo (ou seja lá o que você for),

Envio esta carta para te pedir que desocupe a parte que sobrou do que costumava ser o meu coração. Há coisas demais aí! Não há mais espaço para ti, nem para mais nada. E nem ninguém. Não, mais ninguém.

Peço também que avise aos teus companheiros de quarto (a Saudade, a Angústia, a Ansiedade e os demais agregados) para também se retirarem, pois, estes chegaram sem avisar ou sequer tocar a campainha e as dívidas não podem ser quitadas apenas com sofrimento.

E que se retirem rapidamente, nada de esperar o Tempo, pois este é um tratante! Demora a chegar e apesar do seu bom trabalho, não vale a pena deixar o recinto em cacos esperando a sua chegada. Eu mesmo o reconstruirei!

Por fim, peço que não façam alarde e que não danifiquem mais nada por aí. Pretendo vender o recinto o mais rápido possível, para quem quer que queira, se é que há. E se não o quiserem mais, quem sabe não o abandono? Só não quero alugá-lo a mais ninguém! Não, nem pensar.

E que me retorne com qualquer resposta que não sejam lágrimas.

Encarecidamente,
Luiz Amado.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O poema vermelho.

A poetisa rastejou, manchando o chão de poesia, de essência, de sangue. De dentes cerrados, de olhos fechados, de braços abertos. A lancinante dor percorria-lhe todo o corpo e ia esvair-se pouco abaixo da palma de sua mão. Nada de dor física, não, nada dessa dor superficial: Era dor na alma; a dor dos poetas.

E gritava os seus versos com precisão, as rimas fluíam de seu próprio corpo em tinta vermelha e iam espalhar-se no assoalho dando vida ao que era inegavelmente a maior das artes. O sofrimento expresso de modo concreto, os versos cor-de-carmim manchados com brutalidade no papel onde antes pisavam.

E tudo era sentimento: Das lágrimas secas ao redor de suas pálpebras à ira de seus pulsos arrastados contra o chão. Tudo era seu, tudo era arte. Tudo era apenas um poema, mas o maior deles. E no centro da grandiosa obra tinha a si mesma; em seu rosto, nada de sorrisos, nada de fingimento. Lá estava estampada a face que sempre possuiu por dentro: Aquela manchada de lágrimas e de sangue, mas de boca aberta, entalando um grito.