segunda-feira, 24 de agosto de 2015

os teus olhos
ao mancharem os meus
abrem sorriso
do siso ao siso
— é amor, meu Deus!
só pode ser amor.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Sobre o amor que ninguém vê.

Para alguns de nós
amar é sempre triste
é uma espera incessante
por algo que sequer existe

É um abraço contido demais,
um constante desencontro
É um beijo que, sem avais,
se transforma em batida no ombro

É tudo o que fica escondido
atrás de olhos marejados,
um aceno constrangido,
do coração aos saltos

É tudo ao mesmo tempo

Morte, vida,
Conformação e desespero
É chegada e despedida
É insosso e é tempero

É um ruído silencioso
uma agonia quieta na mente
O antídoto mais venenoso
Pro abandono de toda essa gente

Amor é aquilo, não é isto
Crucifica, salva, aponta o réu
O amor é Jesus Cristo
E quando ele descer do céu
É profano mais que divino
É pouco Eike, mais Severino
É mais Slova que Cuervo
Mas vodka deixa um gosto ruim na boca
De qualquer jeito

É mais espingarda que 38
É ter dezoito
Ser preto
E não ser preso
Ao andar na rua

É chuva que não inunda as ruas de Aracaju
É deputado tomando no olho do cu
Dinheiro rasgado, abraço apertado,
É um monte de prédio derrubado
Pra não tapar o pôr-do-sol
Na orla de Atalaia
No Sábado
E nesse dia ninguém morreu
arremessado
De viaduto nenhum

São fogos de artifício
Na favela
É olhar no fundo do olho dela
E sentir um rebuliço
De beijar
E não machucar

É andar pela rua
e achar sem nexo
Tanta gente se amando
E ninguém do mesmo sexo?

Amar, de fato,
É não achar o amor errado
Seja ele pochete,
Seja ele mala,
Seja um pau sob uma saia,
Mesmo que não saia na manchete
Daquele famoso jornal
Que na capa dessa semana
Defende a redução
da maioridade penal

Amor é não ter um teto
e ainda assim sorrir de afeto
quando nasceu o bebê da Maria
Mas o amor também tá na dor
de Sofia,
a puta que não pariu,
porque não tinha um tostão
ou porque o marido João
interviu
Por não ligar pra afeto
ou pro feto
agora morto
depois do aborto
que Sofia não queria
Mas que morreria
Se não tivesse feito
Então não teve outro jeito



O amor é triste
Sequer existe.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Sala de aula.

Ser alguém
É viver enjaulado
e ainda assim dividir espaço
com toda essa gente 
que vive todo o tempo sentada
E tem toda a vida
redigida
Em papel-moeda
Em fichários lotados 
de rabiscos importados
da cabeça de outra pessoa
E por mais que doa,
essa gente eloquente
não é nada inteligente:
Sou o pior dos bandidos
Por não viver uma vida chata
Toda roteirizada
Em post-its coloridos.