domingo, 14 de outubro de 2012

Ode ao cigarro.

Eu tenho uma teoria para o alto preço do cigarro. Mas só é justificável se você for um miserável. Não os miseráveis financeiros, se é que você me entende, mas os miseráveis de alma. Até porque não há jeito de comprar cigarros não tendo dinheiro nenhum hoje em dia. Falo dos miseráveis de verdade, daqueles que são miseráveis mesmo com dinheiro no bolso.

A propósito, existem também os miseráveis sem dinheiro no bolso. Para estes, aconselho a mendigagem ou o suicídio, mas não o cigarro. 

Quero dizer que cigarros não são só cigarros. São, na verdade, instrumentos de extinção de sentimentos. E isso quer dizer que quanto mais você fuma, menos sentimentos você tem. Quanto mais se fuma, menores as chances de sofrer. E também de ser feliz, mas isso não vem ao caso.


Na primeira tragada, está morta aquela garota que você se apaixonou na escola. Ela está no chão, sem cabeça e esquartejada. Na segunda, você mata a sua mãe e, com ela, metade das suas obrigações. Na terceira vez, o seu sorriso se foi. Até porque ninguém fuma sorrindo. No fim do cigarro, já pertinho do filtro, está você. E aí você tem que se matar também.

Não faça essa cara. Ninguém fuma pra viver. O que te faz sentir vivo é exatamente a sensação de estar matando algo dentro de você. Cada cigarro terminado é como um “Oh, ainda tinha alguma coisa lá dentro”. E quando você passa a não sentir mais nada, a não se importar mais com o gosto, o enjoo ou o estado dos seus pulmões, parabéns: Você já está morto. Só não sabe disso ainda.


Eu tenho uma teoria para o alto preço do cigarro. Mas só para os miseráveis vale a pena pagar caro pra ir se matando aos poucos. Cada profunda tragada é uma busca incessante de se matar asfixiado. De acabar com tudo de uma vez, mas vagarosamente. E só o cigarro proporciona a sensação de ir deixando tudo pra trás, ir se despindo da humanidade, até não ter mais nada a perder. Não é fantástico?


Não há melhor jeito de morrer.