segunda-feira, 13 de junho de 2011

Maria Louca.

E lá estava a Maria Louca, como era chamada, sua doença não era pouca e numa cadeira estava entrevada. Cega, caduca e ah, tão maluca!

Tagarelava, tricotava, trepidava, tiquetaqueava, tornava e retornava. E o cuco, antigo amigo, carcumido em seu abrigo: Tão velho quanto ela, a velha.

- Tic, tac. - dizia o relógio.

- És tão engraçada! - respondeu a velha torta, virada para a porta - Há tempos ando sozinha, amiga galinha, sem ninguém para matar esta tristeza minha!

- Tic, tac. - respondia o passarinho, entrando e saindo do ninho.

- Não fosse tu, amigo urubu, estaria entregue, não negue. - e ia tricotando, marotando e desgastando.

- Tic, tac.

- Ora, esta já não tem mais graça! Outra piada, amiga garça, antes que eu fique cansada!

- Tic, tac.

- Arre! Mas que chata essa ave! - exclamou e não mais tricotou, a cara fechou e os punhos cerrou, se calou.

- Toc, toc.

- Cala-te!

- Toc, toc.

Que surpresa aquele ruído! Era na porta que haviam batido.

Foi o azar, a velha gritar:

- Pode entrar!

Mas qual foi a grande sorte: Quem batia era a própria morte.

4 comentários:

  1. Nossa, o que posso dizer sobre esse seu texto é que ele é fantástico. Muito bom, arrepiante.

    ResponderExcluir
  2. impossivel não ficar impressionada com este texto, perfeito.

    ResponderExcluir
  3. Me identifiquei muito com o seu blog.
    Com cada detalhe, as postagens, me senti super bem recebida.
    Por isso vou ficando, estou a seguir.

    Também tenho um lugarzinho assim :
    www.misturadinamica.blogspot.com
    Ficarei contente em te receber por lá

    ResponderExcluir