A propósito, existem também os miseráveis sem dinheiro no bolso. Para estes, aconselho a mendigagem ou o suicídio, mas não o cigarro.
Quero dizer que cigarros não são só cigarros. São, na verdade, instrumentos de extinção de sentimentos. E isso quer dizer que quanto mais você fuma, menos sentimentos você tem. Quanto mais se fuma, menores as chances de sofrer. E também de ser feliz, mas isso não vem ao caso.
Na primeira tragada, está morta aquela garota que você se apaixonou na escola. Ela está no chão, sem cabeça e esquartejada. Na segunda, você mata a sua mãe e, com ela, metade das suas obrigações. Na terceira vez, o seu sorriso se foi. Até porque ninguém fuma sorrindo. No fim do cigarro, já pertinho do filtro, está você. E aí você tem que se matar também.
Não faça essa cara. Ninguém fuma pra viver. O que te faz sentir vivo é exatamente a sensação de estar matando algo dentro de você. Cada cigarro terminado é como um “Oh, ainda tinha alguma coisa lá dentro”. E quando você passa a não sentir mais nada, a não se importar mais com o gosto, o enjoo ou o estado dos seus pulmões, parabéns: Você já está morto. Só não sabe disso ainda.
Eu tenho uma teoria para o alto preço do cigarro. Mas só para os miseráveis vale a pena pagar caro pra ir se matando aos poucos. Cada profunda tragada é uma busca incessante de se matar asfixiado. De acabar com tudo de uma vez, mas vagarosamente. E só o cigarro proporciona a sensação de ir deixando tudo pra trás, ir se despindo da humanidade, até não ter mais nada a perder. Não é fantástico?
Não há melhor jeito de morrer.
Muito Legal. Ótimo ponto de vista.
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