terça-feira, 1 de setembro de 2015

Onde eu moro.

Eu tentei sair de mim. Tentei as portas e até as janelas, martelei as paredes. Berrei, aos prantos:
"Alguém me tire daqui", alguém gritou de volta de novo e de novo, cada vez mais baixo, até sumir.
Escavei os chãos, pulei muros, chorei. Chorei porque percebi que, para sempre, eu estaria condenado aos meus erros e somente aos meus.
"Eu nunca vou saber como é ser outra coisa".
E se eu desacascasse a pele e o que tem embaixo, se eu me abrisse camada por camada pro avesso respirar?; poderia enfiar os dedos das mãos através da pele cortada, agarrá-la pelas bordas, dobrá-la ao contrário. Não adiantaria.
"Essa aí nasceu do avesso", meu pai dizia, "essa aí é ao contrário". Nasci do avesso, ao contrário. Virada pra dentro de mim mesma, de olhos fixos na escuridão do tempo que passa. Ouvindo o coração bater, bater, bater...
Ah, eu tentei sair de mim. Mas tudo em mim tem cancela, fechadura e chave nenhuma. Tudo em mim clama por me manter afogada, espalhada pelos cantos, escorrida dos olhos.
"Tudo o que morre dentro da gente vira lágrima", eu dizia, quando chorava do lado de fora.

Eu tentei sair de mim. Eu tentei!
Mas eu já nasci morta.
"Essa aí nasceu torta."
Que rima mais infeliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário