quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Faixa de pedestre.

minha tristeza está nas ruas
numa marcha lenta, fria
machucada nas mãos nuas
de dor, berra alto
o rosto arrastado no asfalto
aguardando acabar o dia

meu luto está no olhar indiferente
na pressa de toda essa gente
que pisa, cospe, ignora
mas que por dentro chora
de um vazio que lateja
peleja
e não vai embora

meu pranto, às vezes, é atropelado
por andar a pé
os carros vermelho-sangue
voltam pra perto do mangue
sem saber o quão triste é
ser deixado de lado

minha lágrima quando sobe o morro
abre a boca pra pedir socorro
mas de tão vivida
cala
bebe um copo d'água
para acalmar a mágoa
de nunca ser ouvida

depois ela senta no chão
enxuga o rosto com a mão
ajeita bem o papelão
e dorme tão tranquila
quanto os pés que a pisoteiam

Um comentário:

  1. Muitíssimo bem escrito! E a lágrima personificada é mais real que os sorrisos que aparecem nas selfies, mas não aparecem nas ruas.

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