minha tristeza está nas ruas
numa marcha lenta, fria
machucada nas mãos nuas
de dor, berra alto
o rosto arrastado no asfalto
aguardando acabar o dia
meu luto está no olhar indiferente
na pressa de toda essa gente
que pisa, cospe, ignora
mas que por dentro chora
de um vazio que lateja
peleja
e não vai embora
meu pranto, às vezes, é atropelado
por andar a pé
os carros vermelho-sangue
voltam pra perto do mangue
sem saber o quão triste é
ser deixado de lado
minha lágrima quando sobe o morro
abre a boca pra pedir socorro
mas de tão vivida
cala
bebe um copo d'água
para acalmar a mágoa
de nunca ser ouvida
depois ela senta no chão
enxuga o rosto com a mão
ajeita bem o papelão
e dorme tão tranquila
quanto os pés que a pisoteiam
Muitíssimo bem escrito! E a lágrima personificada é mais real que os sorrisos que aparecem nas selfies, mas não aparecem nas ruas.
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