quarta-feira, 31 de julho de 2024


todo um trajeto marcado por rastros de águas

que já evaporaram


quando choro é como se

eu voltasse fisicamente para o momento da memória

e então consigo dizer que pouca coisa mudou

desde a última vez que escrevi


aqui dentro sou a mesma criança

dura na queda, difícil de morrer

impossível de se convencer


a culpa por sentir tanto e saber

que nem todo ouvido está pronto

que nem todo abraço será acalanto

me condena a uma solidão silenciosa

embalada pelo gotejamento dos pingos

de lembrança líquida


eu lembro demais, de tudo

e o que eu me esforço para esquecer

parece ficar ainda mais aceso

porque essa dança não se pode dançar consciente


costurar seus próprios pedaços

depois ser frágil entre quatro paredes

pelo medo de ser vista mancando, ainda imperfeita

vale a pena?


foi muita água antes que eu me abrisse pra você

mesmo que agora pareça que eu não lembro mais;

mas o corpo lembra


espero os rios reassumirem seus cursos

recobrarem suas correntezas

enquanto navego essas histórias 

num redemoinho