todo um trajeto marcado por rastros de águas
que já evaporaram
quando choro é como se
eu voltasse fisicamente para o momento da memória
e então consigo dizer que pouca coisa mudou
desde a última vez que escrevi
aqui dentro sou a mesma criança
dura na queda, difícil de morrer
impossível de se convencer
a culpa por sentir tanto e saber
que nem todo ouvido está pronto
que nem todo abraço será acalanto
me condena a uma solidão silenciosa
embalada pelo gotejamento dos pingos
de lembrança líquida
eu lembro demais, de tudo
e o que eu me esforço para esquecer
parece ficar ainda mais aceso
porque essa dança não se pode dançar consciente
costurar seus próprios pedaços
depois ser frágil entre quatro paredes
pelo medo de ser vista mancando, ainda imperfeita
vale a pena?
foi muita água antes que eu me abrisse pra você
mesmo que agora pareça que eu não lembro mais;
mas o corpo lembra
espero os rios reassumirem seus cursos
recobrarem suas correntezas
enquanto navego essas histórias
num redemoinho
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