segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Guarda-chuva.

As nuvens choravam o seu pesado pranto, gritavam, luziam. A garota permanecia encolhida debaixo de um guarda-chuvinha cinza que mal se destacava através da cortina de lágrimas que despencava sobre tudo.
Ela estava abatida, assim como eu. Mesmo que a chuva tentasse esconder, a tristeza emanava dela, atravessava a barreira d'água e antigia-me em cheio. E vice-versa, eu sabia.
Nos fitamos daquele jeito por muito tempo, sem movimento, sem gesto algum.
- Você está se molhando. - disse em voz alta, quebrando o silêncio antes quebrado apenas pelo ruído dos pingos se espalhando pelo chão.
Assenti um tanto quanto envergonhado. Só um completo babaca esqueceria o guarda-chuva numa tarde como aquela. Numa tarde inesquecível como aquela.
Dirigiu-se até mim e me deu espaço sob a proteção dela, que era pequena, mas era o suficiente.
Seguimos um caminho incerto sem dizer palavra. Não escutávamos a tristeza um do outro, não; escutávamos a chuva, apenas a chuva; as lágrimas do céu. E essa melancolia era de tal grandiosidade que encobria as nossas próprias e apagava-as.
E impelidos por tal infelicidade é que construímos tais silenciosos passos, sustentando um a dor do outro, mesmo que as mesmas fossem desconhecidas do alheio. Não importava.
A tristeza foi sempre isto: um caminho sem fim, sem fundo. Onde você afunda, se afoga e acaba impregnado. Os tristes são como o céu: calmos, até que venha a tempestade. Até que os olhos cedam. Até que tudo transborde.
E transbordávamos os três: eu, ela e o céu; a única testemunha.

5 comentários:

  1. passe um pouco desse seu talento pra mim, por favor? Ah ok.
    Adorei o texto (mas eu gosto de todos, né), principalmente o final. *-*

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  2. Adoro textos permeados pela chuva. Escrita limpa, bonita. Parabéns.

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  3. Vi seu blog hoje, mas gostei tanto que acabei por presenteá-lo com alguns selos. Olha lá no meu blog, Anthony.
    Abraço.

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  4. indiquei seu blog com selo de qualidade
    http://burogidokenjiq.wordpress.com/

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