De luzes apagadas nada estava errado. Primeiro, a dor e as lágrimas. Depois, a culpa. Oras, não nos amávamos? O que há de errado em agir como amantes que éramos? Como os animais que éramos.
E ia, me preenchia, sem culpa, até que o meu sangue escorresse por sua barriga, até que eu implorasse pra parar. E levantava da cama, andava em círculos, não acendia as luzes. Não queria ver, nem lembrar. E me encontrar aos prantos era a maior prova do crime, do pecado. Como se não pudesse ouvir os soluços esganiçados que eu proferia através do escuro.
E cessavam-se os soluços, as lágrimas, ia-se o cheiro. Estávamos os dois sentados em lençóis sujos, no escuro. Silenciosamente.
Era sempre ele a quebrar o gelo, sua voz vinha sempre baixa, sibilante, pesada. Um cão rouco.
- Já está tarde. - sussurrava, no escuro, tateando em busca de uma das minhas mãos trêmulas. - Hora de ir, irmãzinha.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNossa, fizeste-me sentir calafrios por toda a espinha. Excelente.
ResponderExcluirAbstrato e bizarro. Curti.
ResponderExcluir