quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O poema vermelho.

A poetisa rastejou, manchando o chão de poesia, de essência, de sangue. De dentes cerrados, de olhos fechados, de braços abertos. A lancinante dor percorria-lhe todo o corpo e ia esvair-se pouco abaixo da palma de sua mão. Nada de dor física, não, nada dessa dor superficial: Era dor na alma; a dor dos poetas.

E gritava os seus versos com precisão, as rimas fluíam de seu próprio corpo em tinta vermelha e iam espalhar-se no assoalho dando vida ao que era inegavelmente a maior das artes. O sofrimento expresso de modo concreto, os versos cor-de-carmim manchados com brutalidade no papel onde antes pisavam.

E tudo era sentimento: Das lágrimas secas ao redor de suas pálpebras à ira de seus pulsos arrastados contra o chão. Tudo era seu, tudo era arte. Tudo era apenas um poema, mas o maior deles. E no centro da grandiosa obra tinha a si mesma; em seu rosto, nada de sorrisos, nada de fingimento. Lá estava estampada a face que sempre possuiu por dentro: Aquela manchada de lágrimas e de sangue, mas de boca aberta, entalando um grito.

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