segunda-feira, 6 de março de 2017

Te escrevo dos trilhos de um trem.

te escrevo dos trilhos de um trem
da beira de um penhasco
como quem entorna inteiro 
um frasco de veneno
no intuito de molhar os lábios
te escrevo as tesouras sem ponta
e os bisturis mal amolados
te escrevo da tela
novinha em folha que comprei
pra revestir a janela
do décimo sétimo andar
das faixas de pedestre apagadas
mas percebidas de última hora
como o remédio errado 
colocado pra fora
te escrevo bem de perto da saída de emergência
dos chumbinhos vencidos
das ambulâncias pontuais
e dos cortes profundos
com folhas de papel ofício
te escrevo dos buracos rasos
dos incêndios em galpões vazios
das quedas livres sobre camas elásticas
e da respiração boca-a-boca que você me faz
quando eu finjo que me afogo

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