quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Preto e branco.

- Não dá mais.
Ele disse isso sem olhar em meus olhos e por mais falso que parecesse, acreditei.
O tempo, apenas o tempo era o culpado.
- Você tem certeza? - perguntei, em desespero - Não tem mais... volta?
O silêncio entre as respostas era tão grandioso que, durante ele, eu conseguia ouvir os meus tímpanos latejarem.
E a parte mais inquieta de mim batia sem parar, bombeando o resto da frustração.
- Não.
De repente, tudo estava mais deserto. Não éramos só nós dois, afinal. De repente, eu percebi que não havíamos apenas nós ali. Percebi que havia um mundo ao nosso redor. Percebi a praça, a igreja, o escuro, a angústia. Não havia mais espaço para mim em mim. Percebi que eu andava com as minhas próprias pernas. E o mais doloroso: vi que ele também podia caminhar sem mim.
Tudo em preto e branco.
Levantei-me do banco, controlando as lágrimas. Tudo parecia tão longe. Ele parecia estar tão longe. Não era a mesma coisa. Não éramos mais os mesmos.
- Não vá agora. - pediu, quase como uma súplica, para meu espanto - Ainda é cedo. Fique até as nove.
Nada disse, apenas voltei a sentar. O que eu sentia era algo muito maior que frustração, paixão, alívio, dor, desespero, amor... Abandono.
O silêncio nos matou lentamente naqueles poucos e derradeiros minutos; os últimos.
Eram oito e cinquenta e nove agora e não restava quase nada de nós.
- Agora você pode me deixar ir? - perguntei, mesmo sem ter certeza se a minha voz saíra ou não.
Ele apenas assentiu, fitando o chão, sem olhar para mim.
Ergui-me, enquanto o sino da igreja iniciava a sua batida.
Nove horas.
Os passos vieram instantaneamente, mesmo sem aviso prévio. Quando dei por mim estava indo embora, deixando a correnteza escapar das minhas pálpebras.
- Ei! - chamou ele, às minhas costas - Você não pode ficar até dez?
- Não. - balbuciei, antes de sair andando pela praça escura, em meio à torrente de lágrimas.

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