domingo, 5 de dezembro de 2010

Fogo.

Desesperei-me ao perceber que já não podia ver os olhos dela em meio a todo aquele fogo. Não podia ver se ainda me fitavam do mesmo jeito, aquelas duas e delicadas bolinhas azuis. Apenas os seus gritos eu podia ouvir, quando os meus próprios não eram tão altos. Perguntei-me se as chamas queimavam as suas pernas ou os braços, talvez. Perguntei-me se sentia o mesmo que eu, a mesma dor intensa. Talvez até nisso fôssemos iguais.
Procurei-a sobre rastejos, estendi-me até onde a dor me deixara ir. Como estaria o rosto dela a essa altura? Talvez até nisso fôssemos iguais.
Quando encontrei-a, junto ao chão, os seus olhos ainda estavam molhados porém, sem expressão alguma. Ela virou-se para mim, num movimento agonizante e eu vi todo aquele sangue que manchava o seu rosto.
- Eu te amo. - balbuciamos ao mesmo tempo, um para o outro, salvando-nos um ao outro da dúvida.
Era só o que precisávamos ouvir, antes que o teto despencasse sobre as nossas cabeças.

Um comentário:

  1. Meu Deus, que demais.
    O final é triste e tenso ç.ç', mas eu gostei muito desse texto. De verdade. Sei lá, gosto como você descreve as coisas e tudo.
    ;*

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